A busca pelos parceiros é sempre motivada por bagagens emocionais de gerações anteriores. Entenda como isso afeta suas relações e relacionamentos.
Dando sequência ao tema da semana passada, sobre a excelente matéria da pandemia de divórcios na pandemia, realizada pela Pais&Filhos, vou trazer para reflexão como se formam os casais e como escolhemos nossos parceiros.
Freud é claro ao colocar que a escolha do parceiro se dá de inconsciente para inconsciente. Mesmo que tenhamos claro os motivos que nos ligam ao outro, atrás destes argumentos racionais, existem situações psicológicas da nossa infância com nossos pais que afetam demasiadamente nossas “escolhas”. É como se procurássemos “reviver” ou “evitar” o tipo de relação dos nossos pais enquanto casal – marido e mulher.
A busca é sempre motivada por bagagens emocionais de gerações anteriores que vão tecendo e abastecendo as relações afetivas e íntimas na família. Somos herdeiros destas dinâmicas que se enraízam no terreno familiar e vamos buscar no outro a “solução” deste enredo familiar. Só que isso é uma idealização, uma ilusão, já que o outro nunca poderá responder ao nosso desejo mais profundo e às nossas carências anteriores.
O outro escolhido também é portador de sua história familiar, e portanto também projeta certas expectativas que não serão atingidas. Estas projeções mútuas e expectativas recíprocas, frustradas, são a fonte principal da desilusão amorosa.
Ou seja, atrás de uma desilusão, há sempre uma ilusão! Essa é a principal lição a ser aprendida por nós. Quando vamos escolher nosso parceiro/a temos que nos policiar para não depositar expectativas irreais e imaginárias, achando que o outro vai “reparar” nossas feridas ou déficits emocionais.
Saber que o outro não está lá a serviço do nosso ideal romântico e sim, que ele é uma pessoa inteira, com sua história e personalidade, que não serão modificadas a partir do seu interesse e não te completará, como um “encaixe” de quebra-cabeça.
O encontro entre duas pessoas que decidem conviver, compartilhar e serem parceiros é uma decisão de “aceitar” o outro como um legítimo outro e não uma extensão dos seus desejos. São duas pessoas inteiras, e não duas metades que se completam. Isso seria um reducionismo muito grande, onde cada um teria que ser meio para ser inteiro com o outro.
Sem dúvidas, os dois podem juntos ser mais fortes do que cada um na sua individualidade e vulnerabilidade, mas há que se respeitar o jeito de cada um para funcionar a “dupla”. Ressalto que o amor não basta para sustentar a relação, temos que aprender a funcionar juntos, como time.
Construir um relacionamento saudável é o principal, e isso envolve conhecer o outro nas suas qualidades e dificuldades. Afinal de contas, ninguém é perfeito e completo! Talvez, se fosse, nem precisasse do outro, seria autossuficiente. Outra teoria falaciosa narcísica de que nos bastamos e não precisamos de ninguém.
O ser humano é incompleto por natureza, temos nosso “vazio”, e ninguém pode preenchê-lo. Mas ser parceiro/a na estrada da vida, cheia de subidas, descidas, curvas, buracos, obstáculos, armadilhas e surpresas, dá sentido à existência do casal que cresce junto e se fortalece nas adversidades e responsabilidades da vida.
Não entre nesta pandemia de divórcios, na onda dos outros. Espere essa crise diminuir para avaliar se de fato você está com problemas conjugais, ou se o contexto desfavorável, avassalador e disruptivo não está contaminando seu casamento ou relacionamento.
Pense bem! Quando estamos “fora do eixo”, como agora, devemos evitar decisões dessa magnitude, já que podem apenas agravar o que já é grave. Saber contar com o tempo dos processos ajuda a fazer uma coisa por vez, sem atropelos e contaminações situacionais.
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