EM COMEMORAÇÃO AO DIA DAS CRIANÇAS, TRAGO ESSA QUESTÃO PARA REFLEXÃO.
A resposta para essa pergunta parece lógica que sim, mas não é o que vejo nas famílias contemporâneas, no século 21.
Na ânsia de criar muito bem os próprios filhos, os pais acabam, impulsivamente e precipitadamente, conversando de tudo com eles e abertamente desde cedo. Inclusive, os pais se orgulham em estabelecer uma comunicação tão aberta e direta, de igual para igual. Só que é aí que mora o perigo da chamada adultização das crianças!
A comunicação sadia entre pais e filhos não é falar de tudo abertamente, sem filtros, como se todos estivessem no mesmo nível de maturidade e experiência. Seria fácil se fosse simplesmente assim, mas não é! Exige o ato adulto de “pensar antes de falar”.
Temos que avaliar o que, como, quando e o quanto falar dependendo da idade da criança e do conteúdo a ser exposto. Existem critérios e pré-condições ao se comunicar com os filhos.
Não saímos falando no “rascunho”, temos que editar e escolher o que é próprio ou não para a idade, a utilidade da conversa, bem como o objetivo da comunicação.
A criança tem direito à infância, e isso envolve não saber de tudo que se passa no mundo adulto. O mundo infantil tem que ser infantil, próprio daquela idade, e não só a linguagem, mas inclusive o próprio conteúdo vivenciado. Esse é um cuidado importante que os pais devem ter para preservar os filhos na idade deles, cada um com sua agenda, tarefas, preocupações e desafios. Só temos uma infância, não podemos roubá-la das nossas crianças. Criança tem agenda de criança e não de um miniadulto.
Lembro de um caso em que a criança começou a apresentar certas dificuldades com amigas da mesma classe. A escola me pediu uma avaliação psicológica. Fiz a avaliação familiar para entender qual era o contexto e a dinâmica da família daquela criança e identifiquei que ela não era tratada e nem vista como criança. Tinha uma agenda completamente lotada de aulas e atividades extras. Perguntei aos pais que horas ela brincava ou ficava sem fazer nada e eles orgulhosamente responderam: “Isso não é possível, queremos prepará-la para o mundo competitivo que existe hoje em dia. Então até aula de mandarim ela já está tendo. Nossa família preza pela educação, e não sobra tempo para desperdiçar”.
Pedi então que, aos domingos levassem ela ao parque para ver os patos na lagoa, e que pudessem caminhar sem hora exata para terminar, apenas para desfrutar daquele tempo sem atividade intelectual, dedicado a observar a natureza. Os pais nunca mais retornaram ao consultório para me contar se tinham ou não feito a tarefa terapêutica. Mas, pelo menos, a escola que me procurou pôde entender o que se passava na vida daquela criança: apenas não tinha tempo, nem permissão para ser criança.
Enfim esse é um exemplo de “infância roubada”. É não permitir que ela tenha uma agenda compatível com sua idade, onde o tempo livre, o ócio, as brincadeiras com ou sem amigos, são fontes de vivências fundamentais para a construção da saúde mental.
Não vamos “pular” etapas, imaginando que isso possa significar evoluir. Pelo contrário, significa problematizar. E o problema vai aparecer de um jeito ou de outro, mais cedo ou mais tarde na vida dessa criança, na adolescência ou até na vida adulta. Esse tempo de ser criança com certeza vai fazer falta.
Procure saber o que é importante para cada fase do desenvolvimento infantil, e deixe seu filho aproveitar esse tempo da infância, viver a ingenuidade e a beleza de ter aquela idade que se tem.
Deixe seus filhos brincarem na própria infância, esse é o melhor presente que os pais podem oferecer!
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